terça-feira, 8 de junho de 2010

DE TÃO FEIO, TÃO BELO



Olá, meus companheiros literantes! Cá estou eu de volta, José do Tempório, seu narrador-viajante a Portugal.

Enfim, é restaurada a Coroa portuguesa a quem se deve! A Casa de Bragança assume a realeza destituindo os espanhóis que longos 60 anos imperavam com terror as terras lusitanas. Mas o clero continua junto à nobreza; o luta agora é contra os reformistas que querem uma religião mais livre, porém, os contra querem manter o que para eles é a ordem divina: Deus no centro. Sinto-me dividido. Sou temente a Deus, contudo, quero preservar meu modo de ver e pensar o mundo e está sendo muito difícil conciliar essas duas verdades e creio que não sou o único - nem tudo o que o corpo precisa, a alma quer. Os poetas daqui traduzem esse sentimento em suas poesias cheias de comparações, paradoxos numa linguagem rebuscada de tão culta a la Luís de Gôngora, um poeta espanhol. Dizem que de tanta beleza que colocam nestes poemas, os tornam feios, imperfeitos como aquelas pérolas vindas da Barróquia.

Mas não só de poesia gongórica vive-se nessa época conflituosa. Certo dia, andando por Lisboa, cheguei a Capela Real onde pregava um padre que seria considerado um dos maiores oradores do nosso idiomaterno - Antônio Vieira. Sabe usar a língua vernácula e o latim tão bem que mesmo os mais humildes conseguem compreendê-lo. Aliás, dizem, é exatamente um defensor dos fracos e oprimidos; sua prosa é concisa, clara e objetiva sem perder a beleza dessa arte constratante. Ouvi dizer que essa maneira de prosar e orar deve-se a outro espanhol um tal Francisco Quevedo. Nesse dia, ele orava o que se chamou Sermão da Sexagésima e disse assim:


(...) Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; oos que semeiam sem sair são os que se contentam com pregar na pátria. (...)


Que veemência, que convicção! Num outro dia fui ouvir mais um semão. Este diz-se do Bom Ladrão e ele fala assim:


Não só são ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam.


É preciso muita coragem para falar assim o que justifica sua estada numa casa jesuítica e a proibição de pregar por em seus sermões irem contra algumas ideias dos poderosos. Fiquei sabendo que ele pregou também no Brasil. Aproveitei então para matar saudade da minha terra e voltei alguns anos para apreciar uma vez mais esse grande orador.

Cheguei por volta de 1633 a tempo de ver a primeira pregação do padre Antônio Vieira na Bahia onde orou o Semão XIV e falava para aqueles que maltratam seus servos tratando-os menos que animais. Ele também defendeu o Brasil contra a invasão holandesa. Naveguei até 1640 e alcancei-o quando ditava o Semão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda.

O padre Antônio Vieira voltaria ainda para Portugal para jurar lealdade ao novo rei. Decido contiuar por aqui, já que, a arte barroca também se faz presente nas colônias. Será que encontrarei um poeta ou um orador tão bom como padre Antônio Vieira.